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A arte de escrever Arthur Schopenhauer |
Arthur Schopenhauer
(1788-1860) foi um influente filósofo alemão do século XIX. Sua principal obra,
O mundo como vontade e representação (1818),
exerceu influência direta em grandes pesadores como Nietzsche e Freud. Thomas
Mann, escritor e crítico alemão, afirma que “Schopenhauer, psicólogo da
vontade, é o pai de toda a psicologia moderna.”* Na história da filosofia, ele
é comumente lembrado por seu “pessimismo filosófico”.
A
arte de escrever é um livro que nos traz reflexões sobre o
escritor e seu ofício. Os textos abordados foram retirados de outro importante
livro do filósofo: Parerga und
Paralipomena (1851). A arte de escrever examina relações
entre escritor e escrita, escritor e leitor, escritor e escritor, leitor e
livro, etc. Abaixo, destaquei 30 ideias de Schopenhauer que, apesar de escritas
na metade do século XIX, ajudam o escritor – amador ou profissional – a
refletir sobre seu ofício:
1.
“Um bom cozinheiro pode dar gosto até a uma velha sola de sapato; da mesma
maneira, um bom escritor pode tornar interessante mesmo o assunto mais árido.”
(p.21)
2. “Da mesma maneira, só
chegará a elaborar novas e grandes concepções fundamentais aquele que tenha
suas próprias ideias como objetivo direto de seus estudos.” (pp.21-22)
3. “Não é possível alimentar
os outros com restos não digeridos, mas só com o leite que se formou a partir
do próprio sangue.” (p.22)
4. “A mais rica biblioteca,
quando desorganizada, não é tão proveitosa quanto uma bastante modesta, mas bem
ordenada. Da mesma maneira, uma grande quantidade de conhecimentos, quando não
foi elaborada por um pensamento próprio, tem muito menos valor do que uma
quantidade bem mais limitada, que, no entanto, foi devidamente assimilada.”
(p.39)
5. “Só é possível pensar com
profundidade sobre o que se sabe, por isso se deve aprender algo; mas também só
se sabe aquilo sobre o que se pensou com profundidade.” (p.39)
6. “O excesso de leitura
tira do espírito toda a elasticidade, da mesma maneira que uma pressão contínua
tira a elasticidade de uma mola.” (p.41)
7. “Os eruditos são aqueles
que leram coisas nos livros, mas os pensadores, os gênios, os fachos de luz e
promotores da espécie humana são aqueles que as leram diretamente no livro do
mundo.” (p.41)
8. “Muitos livros servem
apenas para mostrar quantos caminhos falsos existem e como uma pessoa pode ser
extraviada se resolver segui-los.” (p.42)
9. “Nada é mais prejudicial
ao pensamento próprio – que sempre aspira desenvolver um conjunto coeso, um sistema,
mesmo que não seja rigorosamente fechado – do que uma influência muito forte de
pensamentos alheios, provenientes da leitura contínua.” (p.44)
10. “Assim como a leitura, a
mera experiência não pode substituir o pensamento.” (p.49)
11. “O mais belo pensamento
corre o perigo de ser irremediavelmente esquecido quando não é escrito.” (p.52)
12. “Antes de tudo, há dois
tipos de escritores: aqueles que escrevem em função do assunto
e os que
escrevem por escrever.” (p.55)
13. “No fundo, o autor
engana o leitor sempre que escreve para encher o papel, uma vez que seu
pretexto para escrever é ter algo a comunicar.” (p.56)
14. “Pois é como se uma
maldição pesasse sobre o dinheiro: todo autor se torna um escritor ruim assim
que escreve qualquer coisa em função do lucro.” (p.56)
15. “Apenas aqueles que, ao escrever,
tiram a matéria diretamente de suas cabeças são dignos de serem lidos.” (p.58)
16. “O que o endereço do
destinatário é para uma carta, o título deve ser para um livro, ou seja, o
principal objetivo é encaminhá-lo à parcela do público para a qual seu conteúdo
possa ser interessante. Por isso, o título deve ser significativo e, como é
constitutivamente curto, deve ser conciso, lacônico, expressivo, se possível um
monograma do conteúdo.” (pp.61-62)
17. “O fato de haver pouca honradez
entre os escritores é evidenciado pela falta de escrúpulos com que eles falsificam
suas referências a outros escritos.” (p.62)
18. “O estilo é a fisionomia
do espírito.” (p.79)
19. “Devemos descobrir os
erros estilísticos nos escritos dos outros para evitá-los nos nossos.” (p.79)
20. “O ininteligível é
parente do insensato, e sem dúvida é infinitamente mais provável que ele
esconda uma mistificação do que uma intuição profunda.” (p.83)
21. “A primeira regra do bom
estilo, uma regra que praticamente se basta sozinha, é que se tenha algo a dizer. Ah, sim, com isso se chega longe!” (p.84)
22. “Um bom escritor, rico
em pensamentos, conquista de imediato entre seus leitores o crédito de ser
alguém que, a sério, realmente tem algo a
dizer quando se manifesta; é essa atitude que dá ao leitor esclarecido a
paciência de segui-lo com atenção.” (pp.85-86)
23. “A obscuridade e a falta
de clareza da expressão são sempre um péssimo sinal.” (p.91)
24. “Usar muitas palavras
para comunicar poucos pensamentos é sempre o sinal inconfundível da
mediocridade; em contrapartida, o sinal de uma cabeça eminente é resumir muitos
pensamentos em poucas palavras.” (p.94)
25. “A verdade fica mais
bonita nua.” (p.94)
26. “Quem escreve de maneira
displicente confessa com isso, antes de tudo, que ele mesmo não atribui grande
valor a seus pensamentos.” (p.112)
27. “É por isso que os
antigos, cujos pensamentos
formulados em suas
próprias palavras já sobreviveram por milênios, e que merecem
portanto o título honorífico de clássicos,
escreveram com todo
esmero. Dizem que Platão
redigiu a introdução
de sua República sete vezes, com
diversas modificações.” (p.112)
28. “Poucos escrevem como um
arquiteto constrói: primeiro esboçando o projeto e considerando-o
detalhadamente.” (p.115)
29. “Para ler o que é bom
uma condição é não ler o que é ruim, pois a vida é curta, o tempo e a energia
são limitados.” (p.133)
30. “Exigir que alguém
tivesse guardado tudo aquilo que já leu é o mesmo que exigir que ele ainda
carregasse tudo aquilo que já comeu.” (p.135)
Referências bibliográficas:
SCHOPENHAUER, Arthur. A arte de escrever. Editora: L&P,
Porto Alegre, ed. 2009.
MANN, Thomas. "Schopenhauer", Biblioteca do
pensamento vivo, v. 12/13, São Paulo, Martins, s/d., p. 203.